Como a menopausa pode afetar a saúde intestinal?
O período de transição da fase reprodutiva da mulher para a não reprodutiva, que culmina com a menopausa, altera a produção de hormônios femininos, o que pode causar uma série de problemas.
O que é a menopausa?
Embora seja comum as pessoas usarem o termo para nomear a fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo – ou seja, dos anos em que a mulher apresenta ovulação para a fase da vida em que isso não mais acontece -, menopausa é o nome que se dá ao momento que marca o fim dos ciclos menstruais. Ela ocorre, em geral, entre os 45 e 55 anos, depois da mulher passar por um período de transição chamado climatério, em que a menstruação fica escassa e irregular até parar completamente.
- Fim dos ciclos menstruais – para que se possa ter certeza de que os ciclos menstruais chegaram ao fim e que a última menstruação foi de fato a menopausa, é necessário passar um ano inteiro sem menstruar.
Isso ocorre porque os folículos (as células dos ovários que dão origem aos óvulos) vão se reduzindo conforme a mulher menstrua, até se esgotarem. Esse é um processo natural que não pode ser revertido. Com o final da produção de óvulos, as atividades dos ovários se alteram e as concentrações de estrogênio e progesterona caem. A mudança nos níveis de hormônios femininos interfere no funcionamento de outras partes do corpo, o que pode causar uma série de sinais e sintomas, tais como:
- Ondas de calor (fogachos);
- Ressecamento vaginal;
- Alterações na pele, nos cabelos e nas unhas;
- Insônia;
- Dificuldade para esvaziar a bexiga;
- Mudanças de humor (irritabilidade e instabilidade emocional);
- Alteração da libido;
- Perda da memória.
Por estarem envolvidos também na saúde intestinal, mental e do coração, a queda dos níveis de estrogênio e progesterona ainda altera a distribuição da gordura do corpo, aumenta o risco de doenças cardiovasculares, causa perda óssea e prejudica a variedade de micro-organismos presentes na microbiota intestinal.
O que é a microbiota intestinal?
Também conhecida como flora intestinal, é um conjunto de milhares de micro-organismos que habitam o intestino humano e auxiliam em diversas funções do nosso corpo, por exemplo:
- Absorção da energia de alimentos digeridos;
- Proteção do intestino contra outros micro-organismos causadores de doenças;
- Regulação do sistema imunológico;
- Fortalecimento das barreiras bioquímicas do intestino.
A microbiota intestinal é formada em grande parte por bactérias – há cerca de 10 vezes mais células bacterianas do que células humanas no sistema gastrointestinal -, mas também por fungos, protozoários e até mesmo vírus. Eles passam a habitar o intestino de uma pessoa a partir da sua primeira exposição a micro-organismos da mãe, no nascimento, e atingem sua composição completa até os cinco anos de idade.
Ainda assim, há diversos fatores que influenciam o equilíbrio da microbiota intestinal, como a idade, a alimentação e a frequência de uso de certos medicamentos.
Como a menopausa e a microbiota intestinal se relacionam?
Os hormônios femininos podem afetar o equilíbrio da microbiota intestinal que, por sua vez, pode influenciar nos níveis desses hormônios no organismo. Isso pode acontecer pelo seguinte:
- A produção ou a falta de produção dos hormônios femininos está ligada ao equilíbrio da flora intestinal.
O estrogênio e a progesterona são hormônios que oferecem substrato à microbiota intestinal, os níveis deles no organismo influenciam na diversidade de bactérias, fungos, protozoários e vírus que estão presentes na flora do intestino. Quando há uma queda no nível desses hormônios, há também uma perda da diversidade da microbiota. Além disso, a diminuição de estrogênio e progesterona durante o climatério também afeta a barreira intestinal, que fica mais permeável, abrindo espaço para o que se chama de translocação microbiana – ou seja, a passagem desses micro-organismos para outros órgãos.
- A saúde intestinal se reflete nos níveis de estrogênio e progesterona nas mulheres.
Isso acontece porque existem algumas bactérias na microbiota que atuam no processo de reciclagem no organismo de alguns hormônios femininos, especialmente estrogênios, para que possam ser reabsorvidos na circulação e exercer suas diferentes funções. Por isso, uma boa saúde intestinal pode desempenhar um papel importante na determinação dos níveis de hormônios sexuais pós-menopausa.
Como a menopausa afeta a saúde intestinal?
A diminuição do nível de estrogênio no organismo faz com que aumente a quantidade de cortisol no sangue, o que por sua vez, retarda o processo digestivo. Além disso, pouca progesterona pode fazer com que a atividade de digestão no cólon desacelere. Quanto mais tempo os restos de comida permanecerem ali, mais secos eles ficarão. Tudo isso torna mais difícil para as fezes passarem.
Isso, na prática, quer dizer que, por um lado, a diminuição da diversidade de micro-organismos presentes na microbiota intestinal podem alterar o funcionamento do intestino, prejudicando a digestão. Por outro, a queda dos hormônios femininos pode causar a constipação.
Qual é o papel dos probióticos no equilíbrio da microbiota intestinal durante a menopausa?
Os probióticos são bactérias benéficas que auxiliam no equilíbrio da flora intestinal. Dado o potencial da microbiota intestinal saudável para reciclar alguns hormônios femininos, os probióticos podem ser importantes aliados para o corpo da mulher em menopausa se manter saudável. Eles podem ser obtidos em suplementos alimentares ou na alimentação habitual.
O que fazer para manter a saúde intestinal na menopausa?
Cada mulher pode apresentar diferentes sinais e sintomas durante a menopausa e cabe ao médico ginecologista que acompanha a paciente guiá-la por caminhos que ajudem a amenizá-los. Em alguns casos, a reposição hormonal pode ser recomendada, não só para a manutenção da saúde intestinal, mas também pela saúde cardiovascular e para aliviar o fogacho.
Quando o foco são os desconfortos intestinais, em casos graves é possível que o médico recomende o uso de medicamentos. Em outros casos, alguns ajustes no estilo de vida podem apresentar bons resultados, por exemplo:
- Atividades físicas – como corridas ou caminhadas, aulas de dança, natação, yoga, pilates, ciclismo e outros exercícios que movimentam o corpo;
- Alimentação balanceada – manter uma dieta rica em fibras e muita hidratação são hábitos que ajudam a acelerar a digestão, reduzindo ou eliminando a constipação. Por isso, é importante comer frutas, verduras, legumes e cereais;
- Uso de probióticos – por meio de alimentos ricos em probióticos, como iogurte, kefir e alguns queijos, ou da suplementação probiótica.
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Referências
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